27.4.14

Vasco Graça Moura (1942-2014)

soneto do amor e da morte
quando eu morrer murmura esta canção
que escrevo para ti. quando eu morrer
fica junto de mim, não queiras ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.
quando eu morrer segura a minha mão,
põe os olhos nos meus se puder ser,
se inda neles a luz esmorecer,
e diz do nosso amor como se não
tivesse de acabar, sempre a doer,
sempre a doer de tanta perfeição
que ao deixar de bater-me o coração
fique por nós o teu inda a bater,
quando eu morrer segura a minha mão.
Vasco Graça Moura, in Antologia dos Sessenta Anos
«Como ficcionista estreou-se relativamente tarde, em 1987, com Quatro Últimas Canções, um romance no qual a música erudita, uma das suas paixões – a par da pintura, que chegou a praticar –, ocupa um lugar fundamental, contaminando a própria estrutura narrativa.»