23.2.17

Ao Zeca, que ao fim de 30 anos cá está bem VIVO!



Associação José Afonso

As letras de Zeca

Tributo a Zeca Afonso

Mural Sonoro

Zeca, uma Estética que era uma ética



Letra e voz de Zé Mário Branco
Vieste de menino d'oiro pela mão
Acordar a madrugada
E fez mais, às vezes, uma só canção
Do que muita panfletada


         Grandes janelas soubeste abrir
         Por onde o ar correu sem te pedir
         Que não se cansem de nascer
         As fontes onde vais beber

         Nunca mais te hás-de calar,
         Ó Zeca, para nós
         Canta sempre sem parar
         Que é seiva e flor a tua voz

Vestiste a capa de caloiro coimbrão
Para ultrapassar o fado
E, em cada Natal, teu fruto temporão
Nunca foi ultrapassado


         Na distracção jogas à defesa
         Com o humor disfarças a tristeza
         Cantas a esp'rança e o amor
         Que o povo te ensinou, de cor

         Nunca mais te hás-de calar,
         Ó Zeca, para nós
         Canta sempre sem parar
         Que é seiva e flor a tua voz

Nem tudo o que reluz é oiro, pois então
E bem gostaria o facho
De te ver calado e manso pela mão
Com medalhas no penacho


         Co'a a tua ronha felina e sã
         Vais-lhe atirando as flechas de amanhã
         O olho pisco a acender
         E a garganta a acontecer

         Nunca mais te hás-de calar,
         Ó Zeca, para nós
         Canta sempre sem parar
         Que é seiva e flor a tua voz

Vieste de menino d'oiro pela mão...



Poema de José Mário Branco para Zeca Afonso

Zeca Afonso, «No comboio descendente»

José Afonso, «Já o tempo se habitua»

José Afonso, «De sal de linguagem feita»



De sal de linguagem feita
Numa verruma que atava
A lingua presa do jeito
A forma de ser escrava

O apito do comboio
Que não diria de onde era
O apito do comboio
Que não diria de onde era

O sinal, a mordedura
A visita que não vem
O sinal, a mordedura
A visita que não vem

O corredor, o tapume
A sala vedada às feras
O corredor, o tapume
A sala vedada às feras

O frenesim das jibóias
Em guarda, o soldo, a comida
O frenesim das jibóias
Em guarda, o soldo, a comida

A cozedura do pleito
O cheiro a papel selado
Um cantinho de amargura
Um raio de sol queimado

Junto do bolso do fato
A morte, a vida a vitória

Diga lá minha menina
Se acredita nesta história
Diga lá minha menina
Se acredita nesta história


Letra e Música: José Afonso
Álbum: Fura Fura (1979)