Associação José Afonso
As letras de Zeca
Tributo a Zeca Afonso
Mural Sonoro
Zeca, uma Estética que era uma ética
Letra e voz de Zé Mário Branco
Vieste de menino d'oiro pela mão
Acordar a madrugada
E fez mais, às vezes, uma só canção
Do que muita panfletada
Grandes janelas soubeste abrir
Por onde o ar correu sem te pedir
Que não se cansem de nascer
As fontes onde vais beber
Nunca mais te hás-de calar,
Ó Zeca, para nós
Canta sempre sem parar
Que é seiva e flor a tua voz
Vestiste a capa de caloiro coimbrão
Para ultrapassar o fado
E, em cada Natal, teu fruto temporão
Nunca foi ultrapassado
Na distracção jogas à defesa
Com o humor disfarças a tristeza
Cantas a esp'rança e o amor
Que o povo te ensinou, de cor
Nunca mais te hás-de calar,
Ó Zeca, para nós
Canta sempre sem parar
Que é seiva e flor a tua voz
Nem tudo o que reluz é oiro, pois então
E bem gostaria o facho
De te ver calado e manso pela mão
Com medalhas no penacho
Co'a a tua ronha felina e sã
Vais-lhe atirando as flechas de amanhã
O olho pisco a acender
E a garganta a acontecer
Nunca mais te hás-de calar,
Ó Zeca, para nós
Canta sempre sem parar
Que é seiva e flor a tua voz
Vieste de menino d'oiro pela mão...
Poema de José Mário Branco para Zeca Afonso